Poetry and Sleep

Portuguese poems

"Sonho. Não sei quem sou neste momento."


Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento
Minha alma não tem alma.

Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, Obra Poética, org. Joao Gaspar Simoes, 1º vol, circulo de leitores, lisboa, 1986, p.216

I dream. I don't know who I am at this moment.
I sleep feeling myself. In the calm time
My thought forgets the thought
My soul has no soul.

If I exist, it is a mistake that I know it.
It seems like a mistake. I feel that I don't know.
I don't want or have or remember anything.
I don't have being, or law.

Lapse of conscience between illusions,
Ghosts limit me and contain me.
Sleep unaware of extraneous hearts,
Heart of no one.

Fernando Pessoa, Obra Poética, org. Joao Gaspar Simoes, 1º vol, Círculo de Leitores, Lisboa, 1986, p.216

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"Dorme enquanto eu velo…"  

 

Dorme enquanto eu velo…
Deixa-me sonhar…
Nada em mim é risonho.
Quero-te para o sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Não quero ter nos meus braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir…
Sonho-te tao atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio. 1914-1935, Assírio & Alvim, Lisboa, 1998, pp. 66/67

Sleep while I watch…
Let me dream…
Nothing in me is smiley.
I want you for the dream,
Not to love you.

Your serene flesh
Is cold in my wanting.
My desires are fatigues.
I don't want to have in my arms
My dream of your being.

Sleep, sleep, sleep,
Wander in your smiling…
I dream of you so watchful
That dream is enchantment
And I dream without feeling.

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio. 1914-1935, Assírio & Alvim, Lisboa, 1998, pp. 66/67

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"Dorme sobre o meu seio"


Dorme sobre o meu seio,
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.

Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser.
O 'spaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.

Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Sleep over my chest,
Dreaming of dreaming…
In your look I read
A lewd wander.
Sleep in the dream of existing
And in the illusion of loving.

Everything is nothing, and everything
A dream pretends to be.
The dark space is dumb.
Sleep, and, when falling asleep,
Know how to smile from the heart
Smiles of forgetting.

Sleep over my chest,
Without sorrow or love…

In your look I read
The inmost torpor
Of who knows the nothing-to-be
Of life and enjoyment and pain.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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